José Terra
Abril de 2007, no Monumento ao 25 de Abril,
em Fontenay-sous-Bois (região parisiense)
por Dominique Stoenesco
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José Terra [pseudónimo
de José Fernandes da Silva] nasceu em
Prozelo, Arcos de Valdevez, a 24.05.1928.
Poeta, filólogo,
historiador, ensaísta, crítico, tradutor e professor catedrático.
Tendo frequentado o seminário até
aos dezassete anos, fixa-se em Lisboa como empregado comercial (1946) e
frequenta estudos universitários. É licenciado e mestre em Filologia Clássica
pela Universidade de Lisboa. Doutorou-se na Sorbonne – Universidade de Paris
III, em 1984, com a tese intitulada «João Rodrigues de Sá de Meneses e o
Humanismo Português».
Lecionou no ensino secundário,
em Lisboa, e a partir de 1957, ano em que é nomeado pelo Instituto de Alta Cultura como Leitor de Português numa universidade em França,
não mais deixará de ensinar e promover a língua e a cultura portuguesas nesse
país: em Aix-en-Provence, Nice, Paris. Desde 1988 que é professor
catedrático na Universidade de Paris IV – Sorbonne, agora jubilado.
Cofundador e coeditor – com António Luís Moita,
António Ramos Rosa, Luís Amaro e Raul de Carvalho – da revista Árvore – folhas de poesia, de que saíram quatro fascículos: de 1951 a
1953 [1.º fasc., Outono de 51; 2.º
fasc., Inverno de 51-52; 3.º fasc., Primavera e Verão de 52; Vol. II,
primeiro fasc., Outono de 53. No último fasc., Egito Gonçalves substitui
António Luís Moita] e, na sua sequência, cofundador da revista Cassiopeia
– Antologia de poesia e ensaio, igualmente publicada em fascículos
e de que saiu um número único, em março de 1955, sob orientação de António
Carlos, António Ramos Rosa, João Rui de Sousa, José Bento e José Terra.
Colaborou como
poeta e como ensaísta – neste domínio tem-se dedicado sobretudo à literatura e à história do Renascimento
– em diversas publicações periódicas: Árvore,
Cassiopeia, Seara Nova, Vértice, Nova Renascença, Colóquio/Letras, JL – Jornal de
Letras, Artes e Ideias, Diário de Notícias,
O Comércio do Porto, Boletim Internacional de Bibliografia Luso-Brasileira, etc.
Distinguiu-se na escrita literária com a publicação de quatro livros de poesia: Canto da ave prisioneira (1949), Para o poema da criação (1953), Canto submerso (1956) e Espelho do invisível (1959). Volumes agora reunidos em edição integral na sua OBRA POÉTICA (Porto: Modo de ler, 2014 – no prelo), acrescida de textos dispersos e inéditos, tornando a sua poesia visível para o leitor atual, libertando o canto da ave poética para que espelhe a sua arte no panorama literário português.
O seus poemas
foram incluídos em diversas antologias poéticas coletivas e pelo seu volume Canto submerso (1956) foi galardoado com o Prémio de
Poesia «Teixeira de Pascoaes», um ano antes.
Como tradutor, verteu para a língua portuguesa, especialmente com a
chancela Livros do Brasil, obras de David Garnett (A mulher-raposa, 1955); Giovanni Papini (Vigia do mundo, 1955); François Mauriac
(Os anjos negros, 1956); Vasco
Pratolini (O bairro, 1956; As raparigas de Sanfrediano, 1956);
Albert Camus (A queda, 1957, com
muitos “reprints” até à atualidade);
André Maurois (A vida de Victor Hugo, 1958);
Paul Arrighi (História da literatura italiana, 1959);
Pierre Teilhard de Chardin (O fenómeno
humano, 1965 – trad. com Léon Bourdon); Elio Vittorini (Consideram-se mortos e morrem, Lisboa:
Portugália, 195?); Georges Le Gentil (Camões,
1969 – trad. e notas); Colette Callier-Boisvert (Soajo: entre migrações e memória: estudos sobre uma sociedade
agro-pastoril de identidade renovada, 2004 – trad., texto rev. e
aumentado). Traduziu para
francês uma antologia da poética de Ruy Belo – Une façon de dire adieu (1995).
José Carlos Canoa
Principal fonte bibliográfica:
Dicionário
Cronológico de Autores Portugueses, Vol. V,
Lisboa, 1998 – versão online na DGLB.
OBRA POÉTICA + um conto:
Canto da Ave Prisioneira
Lisboa: Edição do autor, 1949.
– capa com um desenho de José Viana Dionísio
[o futuro actor José Viana).
Para o Poema da Criação
Lisboa: Edições Árvore, 1953.
– Com dois desenhos de Cipriano Dourado
e o texto poético «A visão paradisíaca» de António Ramos Rosa.
Canto Submerso.
Lisboa:
Portugália Editora, 1956.
– Com capa de Fernando do pintor Fernando Azevedo
–
Prémio de poesia «Teixeira de Pascoaes»,
recebido no “ano anterior”.
Espelho do Invisível
Lisboa: Livraria Morais Editora, 1959.
– Col. “Círculo de Poesia”.
in Contos do
Minho: colectânea de contistas minhotos.
Póvoa de Lanhoso: Ave Rara, 2002, pp. 161-174.
Póvoa de Lanhoso: Ave Rara, 2002, pp. 161-174.
Receção a Obra Poética (Modo de ler, 2014)
- GUIMARÃES, Fernando, «Reler José Terra», Relâmpago, n.º 34, abril 2014, pp. 208-210.
Alguns estudos sobre José Terra
S.a. – "MARIA DE
Lourdes Belchior, José Terra e Pedro Tamen", Colóquio/Letras. Letras em Trânsito, n.º 140/141, abr. 1996,
p. 349.
AA.VV, Árvore et la poésie portugaise
des années cinquante (1951 -1953), actes du colloque organisé par Maria
Helena Araújo Carreira, Paris: Éditions
Lusophone, 2003.
ANTUNES, Manuel, «?»,
in Brotéria, Lisboa, vol. 56, 1953, pp.
491-494; reprod. in Padre Manuel Antunes, SJ, Obra Completa: Estética e
Crítica Literária, t. V, vol. I, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2009,
pp. 25-26, 28.
ANTUNES, Manuel, «?»,
in Brotéria, Lisboa, vol. 62, 1956, pp.
587-596; reprod. in Padre Manuel Antunes, SJ, Obra Completa: Estética e
Crítica Literária, t. V, vol. I, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2009,
p. 201.
BRASIL, Jaime [?] – «Livros e
Publicações – Canto da Ave Prisioneira
– por José Terra – Com capa desenhada por Viana Dionísio» [Edição do Autor,
1949], in O Primeiro de Janeiro,
18.04.1949, p. 6.
COELHO, Eduardo Prado, «A arte e o invisível na poesia de
José Terra», in A Palavra sobre a Palavra.
Porto: Portucalense Editora, 1972, pp. 205-214.
COCHOFEL, João José,
«Crónica de poesia», in Gazeta Musical e
de Todas as Artes, Lisboa, n.º 87, jun. 1959, pp. 107-108; reprod. in Críticas e Crónicas, pref. Rui Feijó,
Lisboa, IN-CM, 1982, p. 183.
DIAS, Akima, «Uma leitura do conto “Vou até ao fim do
mundo”» [inclui uma “apresentação do autor”], in ROCHA, Paula et al, Contos do Minho… à nossa maneira [baseado no livro Contos do Minho]. Braga: CEFP [Centro de
Emprego e Formação Profissional], 2012, pp. 97-103.
DIONÍSIO, Mário, recensão crítica de: Canto da Ave Prisioneira (1949), Vértice – Revista de Cultura e arte, Lisboa, vol. VIII, 11.07.1949,
p. 57.
ESTEVES, José Manuel da Costa, «La poésie de José Terra: l’acte créateur
comme acte libérateur» [comunicação], in Árvore
et la poésie portugaise des années cinquante (1951 -1953), actes du colloque
organisé par Maria Helena Araújo Carreira, Paris: Éditions Lusophone, 2003.
GONDA, Gumercinda Nascimento, Árvore e o Sentido da Modernidade (As Mil Maneiras de Ver), Tese de
Doutorado em Letras Vernáculas. Faculdade de Letras da UFRJ, 2006.
GONDA, Cinda, «“Árvore”: breve história de uma revista»,
Labirintos: Revista eletrônica do Núcleo
de Estudos Portugueses, n.º 4, 2.º semestre de 2008, Feira de Santana:
Univ. Estadual de Feira de Santana; reprod. em Teia Literária: revista de estudos culturais: Brasil – Portugal -
África [online], n.º 3 – Memória, imaginário e identidade cultural,
São Paulo: In House, 2009 pp. 53-70.
GUISADO, Alfredo – «Livros de Versos. Cântico
da Ave Prisioneira [jan. 1949], de José Terra», in “Literatura” [página
dir. por Alfredo Guisado] do República,
18.03.1949, p. 3.
HÖRSTER, Maria António Henriques Jorge Ferreira, ref.as
à obra de José Terra [interpreta o conjunto da obra do Poeta sob a influência
de Rilke], Para uma História da Recepção
de Rainer Maria Rilke em Portugal (1920-1960). Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian, 2001, pp. 645-652.
LOPES, Óscar, «A crítica do livro», O
Comércio do Porto, Porto,
24.11.1959, p. 6.
MARTINHO, Fernando J. B., «Fidelidade ao humano» [cap. dedicado aos poetas da Árvore, apresentando uma visão global e
interpretativo da poesia de José Terra], in Tendências
Dominantes da Poesia Portuguesa da Década de 50. Lisboa: Edições Colibri,
1996; 2.ª ed., 2013. – A propósito dos
poetas da Árvore, ver p. 206-271 da
1.ª ed. e 220-290 da 2.ª ed..
ROSA, António Ramos, «José
Terra, “A visão paradisíaca”» - prefácio ao livro Para o Poema da Criação, Lisboa, Edições Árvore, 1953.
ROSA, António Ramos - «?», Seara Nova, Lisboa, n° 1370, dez. 1959, pp. 392-393.
ROSA, António Ramos, Recensão
crítica de: “Espelho do Invisível” (José Terra)”, Ler - Jornal de Letras, Artes e Ciências, dez. 1959, p. 392.
ROSA, António Ramos -«?», Cadernos do Meio Dia, Faro, n° 5, fev. 1960, pp. XIII-XIV.
SENA, Jorge de, nota biobibliográfica, in Líricas Portuguesas – 3.º Série, 2.ª ed.
em 2 vols., Lisboa, Ed. 70, 1983 [A 1.ª ed., Lisboa, Portugália, é de 1958], p. 355.
STOENESCO, Dominique, «Os
poetas portugueses imigrantes, refugiados ou exilados na França (desde os anos
1960-70)» [com nota biográfica sobre José Terra], Légua & Meia: Revista de literatura e diversidade cultural.
Feira de Santana: UEFS, v. 4, n.º 3, 2005, pp. 106-130. – disponível online; reprod., em língua francesa, in Latitudes. Cahiers Lusophones, Paris, n.º 27, septembre 2006, pp. 34-45 – sob o título “Les poètes portugais exilés ou immigrés en France, des années 1960-70 à nos jours” [com ilustrações].
ZIMMERMANN, Marie-Claire, «Do obscuro à escrita: um soneto de José Terra», in Terra de Val de Vez, revista cultural do GEPA (Grupo de Estudos do Património Arcuense), Arcos de Valdevez, n.º 18, 2007, p. 131-132.
ESTE POEMA RESPIRA
Este poema
respira. Em seus flancos
circula o sangue por artérias novas.
Rasgo-lhe a boca e beijo-o. Dou-lhe os olhos
selvagens e esta inocência que é
a sua vida
eterna. Entre os salgueiros
esconde o corpo e o sexo recentes.
Há um cheiro a resina, um cheiro vivo
a sémen,
sangue, suor, a flor carnívora.
Este poema
é macho. Olhai seus músculos
retesos, suas ancas, seus artelhos,
seu sexo erecto, seu púbis, seus mamilos.
A primeira seta do sol fere-lhe os olhos.
Vede-o agora de rosto entre as mãos limpando
a sujidade materna com o seu pranto.José Terra
Canto submerso, 1956
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